ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE LEITURA
Conto: “O Alienista” de Machado de Assis
No tempo em
que a cidade de Itaguaí se chamava Vila de Nossa Senhora do Amparo, havia ali
um médico chamado Simão Bacamarte. Era médico, mas não daqueles que se
contentam em examinar pacientes e receitar remédios. Sendo assim, Simão
Bacamarte queria fazer mais pela humanidade. Ele queria estudar a mente humana
e descobrir as raízes de todas as doenças mentais.
Com o apoio
dos moradores mais influentes da cidade, o médico fundou um asilo para doentes
mentais. Dessa forma, ele contratou os melhores médicos e enfermeiros e começou
a tratar todos os tipos de doenças mentais. No entanto, Simão Bacamarte não se
contentou em curar os pacientes. Ele queria algo mais. Ele queria entender a
mente humana.
Assim, o
médico começou a prender pessoas na rua e trazê-las para o asilo, mesmo que
elas não estivessem doentes. Bacamarte acreditava que todos os seres humanos
têm um grau de insanidade e que era seu dever estudá-los e classificá-los.
Dessa forma, com o tempo, cada vez mais pessoas eram levadas para o asilo, até
que a cidade inteira estava praticamente vazia.
Um dia, o
médico decidiu que havia encontrado a cura para todas as doenças mentais. Em
seguida, ele anunciou que todos os pacientes poderiam sair do asilo, exceto
aqueles que eram completamente sãos. Com essa nova definição de sanidade, quase
todos os moradores da cidade foram trancados no asilo. Simão Bacamarte havia se
tornado o louco que queria estudar.
Questões de interpretação
e análise crítica
1. (Inferência
e interpretação de texto)
No trecho “Assim, o médico começou a prender pessoas na rua e trazê-las para
o asilo, mesmo que elas não estivessem doentes”, a atitude de Simão
Bacamarte pode ser interpretada como uma crítica:
(A) à falta de
conhecimento científico da época.
(B) à arbitrariedade do
poder e à imposição de autoridade sem critérios claros.
(C) ao despreparo dos médicos em lidar com doenças mentais.
(D) à resistência da população em aceitar tratamentos médicos modernos.
2. (Relação
entre partes do texto)
O que justifica a mudança no critério de sanidade estabelecido por Simão
Bacamarte ao longo da narrativa?
(A) A evolução dos seus estudos e a
constatação de que todos possuem algum grau de insanidade.
(B) A influência dos moradores da cidade, que exigiram mudanças no
tratamento dos doentes.
(C) A necessidade de manter o asilo funcionando por motivos econômicos.
(D) O desejo de se tornar uma figura de poder e influência na cidade.
3. (Estratégia
argumentativa e ironia)
O desfecho da história, no qual Bacamarte se considera o único são e se interna
no asilo, é uma estratégia narrativa que reforça:
(A) a
previsibilidade do comportamento humano diante de situações de poder.
(B) a ironia presente
na obra machadiana e a crítica aos excessos do cientificismo.
(C) a possibilidade de encontrar um método infalível para classificar a
loucura.
(D) a eficiência dos tratamentos aplicados no asilo ao longo do tempo.
4. (Análise do
contexto histórico e filosófico)
A postura de Simão Bacamarte reflete ideias associadas a qual movimento
intelectual do século XIX?
(A)
Racionalismo cartesiano.
(B) Positivismo, com
sua ênfase na ciência como forma de progresso.
(C) Romantismo, focado na emoção e no individualismo.
(D) Pessimismo filosófico, que critica o progresso da humanidade.
5.
(Interpretação do foco narrativo e do tom da obra)
O tom do conto “O Alienista” pode ser descrito predominantemente como:
(A) Trágico e
melancólico, destacando o sofrimento dos internados.
(B) Didático e educativo, explicando os avanços da psiquiatria.
(C) Sarcástico e
irônico, satirizando o excesso de racionalidade científica.
(D) Dramático e sentimental, exaltando os conflitos do protagonista.
Questões de estrutura e
estilo
6. (Gênero e
estrutura do conto)
O conto "O Alienista" pode ser classificado como uma narrativa de
caráter:
(A)
Naturalista, pois apresenta uma análise científica do comportamento humano.
(B) Surrealista, por apresentar situações impossíveis na realidade.
(C) Paródico, pois distorce intencionalmente a lógica da ciência para fins
cômicos.
(D)
Realista, pois utiliza ironia e crítica social para representar a sociedade.
7. (Figuras de
linguagem e ironia machadiana)
O trecho “Simão Bacamarte havia se tornado o louco que queria estudar”
exemplifica o uso da:
(A) Hipérbole,
para exagerar a loucura do médico.
(B) Metáfora, comparando Bacamarte com um prisioneiro da própria ciência.
(C) Ironia, ao inverter
a lógica do cientificismo exagerado.
(D) Antítese, por contrastar loucura e sanidade de forma absoluta.
Questões sobre personagens
e suas funções na narrativa
8.
(Caracterização do protagonista)
A obsessão de Simão Bacamarte pelo estudo da loucura pode ser vista como uma
metáfora para:
(A) A busca incansável pelo conhecimento
e seus limites.
(B) A necessidade de um líder para organizar a sociedade.
(C) A importância da medicina no controle populacional.
(D) A valorização da razão como única forma de entender o mundo.
9. (Conflito
principal da narrativa)
Qual é o principal conflito no conto "O Alienista"?
(A) A
dificuldade de Simão Bacamarte em classificar corretamente a loucura.
(B) O embate entre o
conhecimento científico e os costumes da sociedade.
(C) A resistência dos moradores em aceitar novas práticas médicas.
(D) O conflito entre médicos e governantes pelo controle do asilo.
10. (Final da
narrativa e sua mensagem central)
O desfecho do conto sugere uma reflexão sobre:
(A) A impossibilidade de definir a
loucura com critérios absolutos.
(B) A importância da psiquiatria para o progresso da humanidade.
(C) A falta de ética na medicina do século XIX.
(D) O fracasso das tentativas científicas de reformar a sociedade.
Questões Abertas – "O
Alienista"
1.
(Interpretação e Crítica Social)
No conto, Simão Bacamarte começa a internar cada vez mais pessoas no asilo, até
que apenas os considerados completamente sãos permanecem presos. O que essa
inversão da lógica da loucura e da sanidade sugere sobre a visão de Machado de
Assis a respeito do poder e da ciência?
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2. (Análise da
Ironia Machadiana)
Machado de Assis é conhecido por seu uso da ironia. Como o trecho final do
conto (“Simão Bacamarte havia se tornado o louco que queria estudar”)
representa essa estratégia literária? Explique com base no contexto da
narrativa.
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3. (Contexto
Histórico e Filosófico)
O conto "O Alienista" foi escrito no século XIX, um período de
valorização da ciência e do positivismo. De que forma a obra pode ser vista
como uma crítica ao excesso de confiança na ciência e na razão?
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4. (Personagem
e Motivação)
Simão Bacamarte se dedica à ciência com total compromisso e rigor. No entanto,
suas ações acabam prejudicando a população de Itaguaí. Você considera que ele é
um personagem vilão ou apenas um cientista mal compreendido? Justifique sua
resposta com elementos do texto.
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5. (Comparação
com a Atualidade)
Na sociedade atual, ainda há debates sobre os limites da ciência e da ética na
medicina e na psicologia. Você consegue relacionar as atitudes de Simão
Bacamarte com situações contemporâneas, como internações forçadas, diagnósticos
excessivos ou uso abusivo da psiquiatria? Explique sua resposta com um exemplo
atual.
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Questão Argumentativa:
No conto "O Alienista",
Machado de Assis questiona os limites entre sanidade e loucura, além de
criticar a autoridade da ciência quando usada sem reflexão ética. Considerando
esse contexto, você acredita que a ciência deve ter poder ilimitado para
decidir o que é "normal" ou "anormal" na sociedade?
Escreva parágrafo texto
argumentativo defendendo seu ponto de vista. Utilize exemplos
do conto e, se possível, relacione com situações da atualidade para embasar sua
resposta.
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Gabarito –
Questões Abertas
1. (Interpretação e Crítica Social)
A inversão da lógica da loucura e da sanidade no conto sugere uma crítica ao
abuso de poder e à autoridade desmedida. Machado de Assis satiriza a forma como
a ciência pode ser usada como instrumento de opressão, quando aplicada sem
critérios éticos. Além disso, a obra questiona os limites entre razão e
insanidade, mostrando que a busca obsessiva pela verdade pode levar ao próprio
desequilíbrio.
2. (Análise da Ironia Machadiana)
O trecho final do conto representa ironia porque inverte a situação inicial:
Simão Bacamarte, que internava os outros com base em critérios próprios, acaba
se reconhecendo como o único verdadeiramente são e, por isso, se interna
voluntariamente. Essa situação absurda critica o cientificismo exagerado e
sugere que a definição de loucura é relativa e subjetiva.
3. (Contexto Histórico e Filosófico)
No século XIX, o positivismo defendia que a ciência poderia solucionar todos os
problemas da sociedade. Machado de Assis, por meio do conto, faz uma crítica a
essa visão excessivamente racionalista, mostrando que o conhecimento
científico, quando aplicado sem sensibilidade e sem questionamento ético, pode
ser tão prejudicial quanto a ignorância. O conto demonstra que a obsessão pelo
controle absoluto pode resultar em injustiças e absurdos.
4. (Personagem e Motivação)
A interpretação sobre Simão Bacamarte pode variar. Ele pode ser visto como um
vilão, pois usa sua posição de médico para exercer poder sobre a população,
internando pessoas arbitrariamente. No entanto, também pode ser interpretado
como um cientista obcecado pelo conhecimento, sem perceber as consequências de
suas ações. Essa ambiguidade faz parte da ironia do conto e permite diferentes
leituras.
5. (Comparação com a Atualidade)
A história de Simão Bacamarte pode ser relacionada a debates contemporâneos
sobre internações forçadas, diagnósticos excessivos e o uso abusivo da
psiquiatria. Um exemplo atual é a discussão sobre o aumento dos diagnósticos de
transtornos mentais e o uso indiscriminado de medicamentos psiquiátricos,
muitas vezes sem necessidade. Além disso, há casos de hospitais psiquiátricos
que mantêm pacientes internados por longos períodos sem justificativa adequada.
Assim como no conto, a linha entre sanidade e loucura ainda é debatida.
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