Conto - O Grande Mistério - Stanislaw Ponte Preta
Há
dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da
sala de visitas. Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível
cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa
notaram que a sala fedia, havia um suflê de camarão para o jantar. Daí…
Mas
comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras
na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior.
Talvez
alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use,
jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados
espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada,
que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério
persistiu.
Os
patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia
continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou
na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e… nada. Vinte e quatro horas
depois, a coisa continuava. Se modificação houvera, fora para um cheiro mais
ativo.
À
noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vítima da
leitura dos jornais, que folheara no caminho para casa, chegou até a citar a
Constituição na defesa de seus interesses.
–
Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e uma babá
tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja
um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados. Reunida na cozinha, a criadagem confabulava.
Os debates eram apaixonados, mas num ponto todos concordavam: ninguém tinha
culpa. A sala estava um brinco; dava até gosto ver. Mas ver, somente, porque o
cheiro era de morte.
Então
alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho não iria
melhorar a situação? – Isso mesmo —
aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma fórmula capaz de combater
o mal que ameaçava seu salário.
Pela
manhã, ainda ninguém se levantara, e já a copeira e o chofer enceravam
sofregamente, a quatro mãos. Quando os patrões desceram para o café, o assoalho
brilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que há dias
intrigava a todos, persistia, a uma respirada mais forte.
Apenas
uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera — como era
normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso — estranhamente, aumentava. Pouco
a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados e empregadores. A patroa, enfim, contrariando os seus hábitos,
tomou uma atitude: desceu do alto do seu grã-finismo com as armas de que
dispunha, e com tal espírito de sacrifício que resolveu gastar os seus
perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfume francês no tapete, a
arrumadeira comentou com a copeira: –
Madame apelou para a ignorância.
E
salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lançada. Madame esbanjou
suas essências com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso.
Seria o prestígio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli,
Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.
Na
hora do jantar a alegria era geral. Nas restavam dúvidas de que o cheiro
enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de visitas,
mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível ao outro,
finalmente vencido. Mas eis que o
patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, para não
acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira. Ia ainda a meio caminho
quando sentiu que o exército de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho
que fez daria para acordar um quarteirão, quanto mais os da casa, os pobres
moradores daquela casa, despertados violentamente, e que não precisavam
perguntar nada para perceberem o que se passava. Bastou respirar.
Hoje
pela manhã, finalmente, após buscas desesperadas, uma das empregadas localizou
o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da família, pois
tratava-se de peça raríssima, da dinastia Ming... Apertada pelo interrogatório
paterno Giselinha confessou-se culpada e, na inocência dos seus três anos,
prometeu não fazer mais. Não fazer mais na jarra, é lógico.
Questões
SPAECE
1. Qual é a tese
central do conto?
(A) O excesso de perfumes pode piorar um problema de odor.
(B) O mistério do mau cheiro causa tensão entre patrões
e empregados.
(C) O suflê de camarão foi a principal causa do mau cheiro na sala.
(D) A culpa pelo cheiro ruim foi dos empregados da casa.
2. Qual estratégia a
patroa utilizou para tentar resolver o problema do cheiro?
(A) Jogou a jarra fora.
(B) Contratou novos empregados.
(C) Passou perfumes franceses no tapete.
(D) Lavou a sala com produtos de limpeza.
3. No trecho: “Madame
apelou para a ignorância.”, o que a empregada quis dizer com essa frase?
(A) A patroa não sabia o que estava fazendo.
(B) A patroa tomou uma atitude extrema e ineficaz.
(C) A patroa pediu ajuda aos empregados.
(D) A patroa não percebeu o problema do cheiro.
4. O trecho "Na
hora do jantar a alegria era geral" indica que os personagens estavam
felizes porque:
(A) Resolveram definitivamente o problema do mau cheiro.
(B) Conseguiram mascarar temporariamente o odor.
(C) Descobriram que a jarra era a fonte do cheiro.
(D) Giselinha confessou sua culpa.
5. Qual foi a
verdadeira causa do mau cheiro na sala?
(A) Um pedaço de pão mofado.
(B) Um suflê de camarão estragado.
(C) Um objeto esquecido dentro da jarra.
(D) A cera aplicada no assoalho.
6. No trecho: “Mas eis que o
patrão, a horas mortas, acordou com sede.”, a expressão "a horas
mortas" significa:
(A) Durante a madrugada.
(B) No final da tarde.
(C) No começo da manhã.
(D) No horário do jantar.
7. Sobre a estrutura do
texto, podemos afirmar que:
(A) É um texto narrativo, pois apresenta personagens,
enredo e desfecho.
(B) É um texto expositivo, pois traz informações sobre perfumes
franceses.
(C) É um texto descritivo, pois detalha minuciosamente os acontecimentos.
(D) É um texto injuntivo, pois orienta sobre como evitar maus odores.
8. Qual efeito de
sentido é gerado com a frase: “Seria o prestígio e a experiência de
Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra
a ignóbil catinga.”
(A) O humor, ao exagerar a importância dos perfumes na batalha contra o mau
cheiro.
(B) O suspense, ao criar um clima de mistério em relação à origem do cheiro.
(C) A ironia, ao comparar perfumes sofisticados com um
cheiro desagradável.
(D) A formalidade, ao citar marcas famosas de perfumes.
9. A postura do patrão
em relação ao problema do mau cheiro pode ser descrita como:
(A) Paciência e compreensão com os empregados.
(B) Indiferença e falta de preocupação com o odor.
(C) Irritação e cobrança exagerada sobre os empregados.
(D) Medo e insegurança diante da situação.
10. No trecho: “Se
modificação houvera, fora para um cheiro mais ativo.”, o que significa
"cheiro mais ativo"?
(A) Um cheiro mais forte e desagradável.
(B) Um cheiro agradável e duradouro.
(C) Um cheiro fraco e quase imperceptível.
(D) Um cheiro parecido com o de perfumes caros
.
ATIVIDADE AVALIATIVA –
Responda no caderno
INTERPRETAÇÃO
TEXTUAL
1. Qual
acontecimento estranho chama a atenção dos moradores da casa em se passa o
conto?
2.
Quais explicações aparecem para esse acontecimento ao longo do conto?
3.
Qual a classe social da família que mora na casa? Justifique sua resposta
4. De
que formas tentaram resolver o problema?
5.
Quem era o culpado pelo problema?
ANÁLISE
DO CONTEXTO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO E DA FORMA COMPOSICIONAL DO GÊNERO
1.
Quais são os personagens do conto?
2.
Onde a história se passa?
3.
Existe um tempo determinado em que a história se passa? Se sim, como é possível
saber qual é o tempo?
4.
Todo conto de mistério, como o próprio nome diz, apresenta um mistério a ser
solucionado. Qual é o mistério do conto lido?
5.
Antes da resolução desse mistério, o autor cria um clima de suspense na
narrativa. Como isso foi feito no conto O Grande Mistério?
6.
Qual é o conflito do conto?
7.
Qual é o clímax do conto?
8.
Qual é o desfecho do conto?
PROPOSTA
DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Refletindo
sobre o conto que você leu, você deverá escrever uma história em que uma
detetive investiga um assassinato, a fim de descobrir a identidade do
criminoso. Em seu conto, você deverá revelar quem é o assassino. Importante:
lembre-se de dar um título a seu texto e de escrevê-lo em terceira pessoa.
Descreva como é seu personagem fisicamente. Determine sua altura, como são seus
cabelos, seus olhos e seu corpo.
Descreva
algumas características do espaço em que a história ocorrerá. Como é esse
lugar? Como são as pessoas que ali vivem? Há animais nesse lugar? Como eles
são? E quanto ao clima? Faça sua descrição de forma mais detalhada possível.
Descreva como é seu
personagem psicologicamente, ou seja, determine se sua personalidade é calma ou
agitada, se é altruísta ou egoísta, se alguém confiável ou não e demais
características que julgar importantes.
Defina
qual o passado de seu personagem. Você pode escrever onde ele nasceu, como é
sua família, quais são as coisas de que mais gosta entre outras informações que
considerar pertinentes.
Texto – O
Impacto do Uso Excessivo de Telas
Nos últimos anos, o tempo que as pessoas passam em
frente às telas aumentou significativamente. O uso excessivo de dispositivos
eletrônicos, como celulares, tablets e computadores, tem sido associado a
diversos problemas de saúde, incluindo dificuldades para dormir, fadiga ocular
e sedentarismo. Especialistas recomendam que o tempo de exposição seja
equilibrado e que pausas regulares sejam feitas para reduzir os impactos
negativos.
Questões
SPAECE
1. Qual é
o tema central do texto?
(A) A
evolução dos dispositivos eletrônicos.
(B) Os benefícios do uso das telas na educação.
(C) Os impactos negativos do uso excessivo de telas.
(D) A importância da tecnologia na sociedade moderna.
2. O
principal objetivo do texto é:
(A)
Explicar como funcionam os dispositivos eletrônicos.
(B) Informar sobre os efeitos negativos do uso
excessivo de telas.
(C) Convencer o leitor a parar de usar tecnologia.
(D) Contar uma história fictícia sobre telas e saúde.
3. No
trecho: “Especialistas recomendam que o tempo de exposição seja equilibrado e
que pausas regulares sejam feitas para reduzir os impactos negativos.”, o autor
pretende:
(A)
Fazer um alerta sobre os riscos do excesso de telas.
(B) Incentivar o aumento do uso de telas no dia a dia.
(C) Explicar como as telas funcionam.
(D) Defender o uso irrestrito da tecnologia.
4. O
título do texto ajuda a identificar seu tema porque:
(A)
Indica que o uso de telas pode ter consequências.
(B) Sugere que a tecnologia é essencial para a vida moderna.
(C) Mostra que os dispositivos eletrônicos são indispensáveis.
(D) Aponta a necessidade de mais telas no cotidiano.
5. Com
base no texto, o autor sugere que o uso de telas:
(A) Deve
ser evitado a qualquer custo.
(B) Não causa nenhum impacto na saúde.
(C) Deve ser moderado para evitar problemas.
(D) É essencial para a vida moderna e sem riscos.
6. Qual das opções melhor resume o tema do texto?
(A) O avanço da tecnologia e o
surgimento de novas telas eletrônicas.
(B) A influência da tecnologia na comunicação global.
(C) Os efeitos negativos do uso excessivo de telas e a
importância do equilíbrio.
(D) As vantagens do uso contínuo de dispositivos eletrônicos para o
aprendizado.
7. Qual alternativa apresenta uma possível
reformulação do título mantendo o tema do texto?
(A) “O Futuro da Tecnologia e das
Telas” (B) “Os
Riscos do Uso Exagerado de Dispositivos Eletrônicos”
(C) “Como Escolher o Melhor Celular para o Dia a Dia” (D) “Os Benefícios das Telas para o
Aprendizado”
Conto: O Grande Mistério -
Stanislaw Ponte Preta
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
- Qual
acontecimento estranho chama a atenção dos moradores da casa em que se
passa o conto?
É o cheiro
insuportável que começa a vir da sala de visitas. Inicialmente, o cheiro é
confundido com algo como camarão, mas, após o jantar, o problema persiste e o
cheiro fica cada vez pior.
- Quais
explicações aparecem para esse acontecimento ao longo do conto?
Inicialmente, pensa-se
que o cheiro possa ser causado pelas sobras do suflê de camarão, mas depois,
essa explicação é descartada. Então, surgem outras possibilidades, como a ideia
de que alguém poderia ter jogado sua porção de camarão embaixo da mesa, mas
nada é encontrado. A arrumadeira tenta limpar com mais zelo, mas o cheiro
persiste. Até mesmo a ideia de encerar o assoalho é testada, sem sucesso. Por
fim, a patroa decide usar perfumes franceses para mascarar o odor, mas isso não
resolve. O mistério só é solucionado no final, quando Giselinha, a criança,
revela que o cheiro vinha de uma jarra com algo que ela tinha feito.
- Qual
a classe social da família que mora na casa? Justifique sua resposta.
A família é de
classe alta. Isso pode ser percebido pela forma como os patrões se
comportam (exigindo perfeição dos empregados, tratando-os com distanciamento) e
pela presença de vários empregados (arrumadeira, copeira, chofer). Também é
indicada pela utilização de perfumes franceses caros e a sala de
visitas bem cuidada, que sugere uma casa de luxo e cuidado com a aparência
social.
- De
que formas tentaram resolver o problema?
Inicialmente, tentaram
atribuir o cheiro a uma comida (o camarão) e depois investigaram se algo
poderia ter sido jogado na sala. Quando isso não funcionou, tentaram uma
limpeza mais intensa, com a arrumadeira se dedicando mais ao ambiente. Após o
insucesso de limpar, a solução foi tentar encerar o assoalho. Quando
também não deu certo, a patroa usou perfumes franceses para disfarçar o
cheiro. A solução definitiva veio quando Giselinha, a criança, revelou que o
cheiro vinha de uma jarra, e o mistério foi finalmente desvendado.
- Quem
era o culpado pelo problema?
Era Giselinha, a
criança da casa. Ela havia colocado algo na jarra, sem que os adultos
soubessem, causando o odor estranho. Ao ser questionada, Giselinha confessou
que tinha sido ela, mas com a inocência de uma criança, sem compreender as
consequências de seu ato.
ANÁLISE DO CONTEXTO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO E DA
FORMA COMPOSICIONAL DO GÊNERO:
- Quais
são os personagens do conto?
Os personagens principais são:
- Os
patrões (os donos da casa)
- A
arrumadeira (responsável pela limpeza)
- A
copeira (funcionária da cozinha)
- O
chofer (motorista)
- Giselinha
(a criança)
- O
patrão (que lidera a crítica e a ação)
- Onde
a história se passa?
A história se passa em
uma casa de classe alta. O foco da narrativa é na sala de visitas, um
ambiente de destaque dentro da residência. A casa é grande, bem cuidada, com
empregados e um ambiente socialmente elevado.
- Existe
um tempo determinado em que a história se passa? Se sim, como é possível
saber qual é o tempo?
O tempo específico não é dado de
forma clara, mas podemos inferir que a história se passa em um período contemporâneo
à época de sua escrita (possivelmente nas décadas de 1960 a 1970), devido ao
contexto social descrito, como o uso da Constituição pelo patrão e a presença
de empregados e patrões, que indicam uma divisão social característica de
sociedades mais hierárquicas.
- Todo
conto de mistério, como o próprio nome diz, apresenta um mistério a ser
solucionado. Qual é o mistério do conto lido?
O mistério é o cheiro
insuportável que vem da sala de visitas e que ninguém consegue identificar
ou eliminar, apesar das várias tentativas de limpeza e soluções propostas pelos
moradores da casa.
- Antes
da resolução desse mistério, o autor cria um clima de suspense na
narrativa. Como isso foi feito no conto "O Grande Mistério"?
É criado por meio da incerteza
e frustração contínuas. Cada tentativa de resolver o mistério falha, o que
aumenta a tensão entre os personagens e mantém o leitor curioso sobre a origem
do cheiro. O fato de a solução do mistério demorar a surgir, mesmo com várias
tentativas e explicações alternativas, mantém o suspense até o momento da
revelação final.
- Qual
é o conflito do conto?
- É o
desespero e a frustração dos patrões e empregados para encontrar a
origem do cheiro insuportável na sala de visitas. Esse conflito também
tem um aspecto social, já que os patrões exigem um trabalho perfeito,
enquanto os empregados, que tentam resolver o problema, estão
constantemente sendo criticados.
- Qual
é o clímax do conto?
- Quando
a patroa resolve despejar perfume francês na sala para tentar
resolver o problema do cheiro. Esse ato representa o ápice do desespero
dela, que, em sua busca desesperada pela solução, toma uma medida extrema
e irreversível. O suspense atinge seu ponto mais alto nesse momento.
- Qual
é o desfecho do conto?
- Quando
a verdadeira causa do cheiro é revelada. Giselinha, a criança da
casa, admite que foi ela quem causou o problema ao colocar algo dentro de
uma jarra, o que gerou o cheiro. Ela o fez sem intenção de causar um
problema, o que torna a solução do mistério simples, mas também revela a
ingenuidade da criança.