ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
BIOGRAFIA
Rachel de
Queiroz
Rachel de
Queiroz (1910-2003)
foi uma grande escritora, jornalista, tradutora e dramaturga brasileira. Ganhou
diversos prêmios, dentre eles o "Prêmio Camões" (1993), sendo
portanto, a primeira mulher a recebê-lo. Além disso, foi a primeira mulher a
ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 1977. Dada sua
importância para a literatura nacional, em 2003 foi inaugurado o "Centro
Cultural Rachel de Queiroz" em Quixadá (CE), cidade em que Rachel viveu.
Rachel de
Queiroz nasceu na capital cearense, Fortaleza, no dia 17 de novembro de
1910.Filha de intelectuais, do advogado Daniel de Queiroz Lima e de Clotilde
Franklin de Queiroz, era descendente, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar
(sua bisavó materna era prima José de Alencar). Com apenas 7 anos sua família
muda-se para o Rio de Janeiro e depois para Belém do Pará.
Depois de
dois anos retornam ao Ceará e Rachel torna-se aluna interna do “Colégio
Imaculada Conceição”. Com apenas 15 anos de idade, forma-se professora em 1925.
Lecionou História e, com 20 anos, em 1930, publica seu primeiro romance, “O
Quinze”. Nessa obra, a escritora retrata a seca de 1915 no nordeste do país
e a realidade dos retirantes nordestinos.
A obra
bem recebida pelo público, “O Quinze”, foi agraciada com o prêmio da
Fundação Graça Aranha. Em 1927, após uma publicação com o pseudônimo “Rita de
Queiroz” no Jornal do Ceará, Rachel é convidada para colaborar nesse jornal.
Nele, começa a publicar diversas crônicas e a trabalhar como repórter.
Foi militante política e afiliada ao Partido
Comunista Brasileiro desde 1930. Em 1932, casa-se com o poeta José Auto da Cruz
Oliveira, separando-se em 1939. No ano seguinte, casa-se novamente com o médico
Oyama de Macedo, com quem permanece até seu falecimento, em 1982. Em 1992,
escreveu o romance “Memorial de Maria Moura”, o qual lhe conferiu o
"Prêmio Camões". Aos 92 anos, no dia 4 de novembro de 2003, na cidade
do Rio de Janeiro, descansando em sua rede, falece Rachel de Queiroz.
Obras
Possuidora de uma vasta obra, Rachel de Queiroz
escreveu romances, contos e crônicas, com destaque para ficção social
nordestina. Além disso, escreveu literatura infanto-juvenil, antologias e peças
de teatro. Segue abaixo algumas obras:
· O Quinze (1930) · João Miguel (1932) · Caminhos de Pedras (1937)
· As Três Marias (1939) · Três romances (1948) · O Galo de Ouro (1950)
· Lampião (1953) · A Beata Maria do Egito (1958) · Quatro Romances (1960)
· O Menino Mágico (1969) · Seleta (1973) · Dora Doralina (1975)
· Memorial de Maria Moura (1992) · Andira (1992) · As Terras Ásperas (1993)
· Teatro (1995) · Falso Mar, Falso Mundo (2002)
Frases
“Eu nunca fui uma moça bem-comportada. Pudera,
nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro
amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de
belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. Estou aqui pra aprender a gostar de
cada detalhe que tenho.”
“Não sou feminista. Acho que a sociedade tem que
crescer em conjunto. A associação mulher e homem é muito boa e acho um grande
erro combater o homem.”
“Fala-se muito na crueldade e na bruteza do
homem medievo. Mas o homem moderno será melhor?”
“A gente nasce e morre só. E talvez por isso
mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado.”
“Eu sou essa gente que se dói inteira porque não
vive só na superfície das coisas.”
“Infelizmente não acredito em Deus. Acho uma
grande pobreza não ter uma fé. É um desamparo, uma solidão muito grande.”
ATIVIDADE DE ARGUMENTAÇÃO
Escolha uma das frases de Rachel de Queiroz e
argumente sobre sua mensagem. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
COMPREENSÃO E INTRPRETAÇÃO TEXTUAL
Leia: A Arte de ser avó – Rachel de Queiroz
Netos são
como heranças: você os ganha
sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...
Quarenta anos, quarenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações - todos dizem isso embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto - mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes
lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da
meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que
você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no
seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu
Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas
que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a
prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São
homens e mulheres - não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis - nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avó, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...
No entanto - no entanto! - nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do garoto. Não importa que ela, hipocritamente, ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá- lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.
Já a avó, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer roquetes, tomar café - café! -, mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser - e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com o lápis dizendo que foi sem querer - e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó, e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna...
Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém, esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade...
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague...
INTERPRETAÇÃO DA CRÔNICA
1. Quanto ao texto, é
correto afirmar que o objetivo fundamental é:
a) Divulgar estudo
científico sobre ser avó.
b) Expor as tristezas de
ser avó.
c) Expressar a
obrigatoriedade de ser avó.
d) Propor reflexão sobre o que é ser avó.
e) Questionar a rivalidade
entre avó e mãe.
2. “Sem se passarem as penas
do amor”(linha 4), a palavra sublinhada tem o mesmo sentido de
a) alegrias. b) certezas. c) desafios. d) rejeições. e) traumas.
3. O melhor de ser avó, de acordo com o
texto, é
a) o neto ser sangue do sangue.
b) o neto compensar a ausência dos filhos.
c) o neto e a avó se entenderem bem.
d) o neto não impor as agonias do parto.
e) o neto ser melhor que namorado.
4. “O bibelô de estimação que se quebrou
porque o menininho - involuntariamente! - bateu com a bola nele.”(linhas
96,97) As palavras sublinhadas indicam
a) afetividade – sem intenção.
b) brandura- sem vontade.
c) desprezo- sem coragem.
d) ironia- sem certeza.
e) tamanho-sem interesse.
5. “Nem tudo são flores no caminho da avó.”(linha 46) Esta expressão significa que
a) a avó encontrará facilidades.
b) a avó encontrará um caminho.
c) a avó enfrentará dificuldades.
d) a avó deve ter cuidado.
e) a avó percorrerá um longo caminho.
6. “Está quebrado e remendado, mas
enriquecido com preciosas recordações.” (linha 98) A palavra sublinhada tem o
mesmo sentido de
a) assim. b) contudo. c) enquanto d). porque. e) portanto.
7. Uma noite na casa da avó é maravilhosa
porque
a) a avó mora em outra casa.
b) a avó sempre dá presentes.
c) a avó leva a passear.
d) a avó esquece a disciplina.
e) a avó tem pretensão pedagógica.
8. A expressão “água do gato” (linha 74)
exprime relação de
a)finalidade. b) matéria. c) meio. d) posse. e) tempo.
9. “Apagar a luz mil vezes” (linha 74) é
um exagero. A figura de linguagem utilizada foi
a) comparação. b) eufemismo. c) hipérbole. d) metáfora. e) metonímia.
10.“Até as coisas negativas se viram em alegrias” (linha 95). A
palavra sublinhada apresenta sentido de
a)ainda. b)limite. c) distância. d) mesmo. e) tempo.
11. “Todos lhe
reconhecem o seu direito.” (linha 33). A partícula lhe refere-se a
a) amar. b) avó. c) criancinha. d) doutor. e ) escândalo.
12. O “cônjuge” (linha 24) é
a) enteado/enteada. b) esposo/esposa. c) sobrinho/sobrinha. d) genro/nora.
e) vizinho/vizinha.
13.”O tempo passou mais depressa do que esperava.” (linhas 10, 11)
significa que
a) o tempo permite
aproveitarmos a vida.
b) o tempo passa sem que percebamos.
c) o tempo é algo que todos
entendemos.
d) o tempo é muito
imprevisível.
e) o tempo é inconstante.
14. A expressão “Se o
Doutor Fausto fosse avó, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto...”
(linhas 44, 45) indica
a) certeza. b) condição c) explicação.
d) tempo. e) modo.
15.“Dorme com
ele” (linha 57) A palavra sublinhada indica
a) adição. b) companhia. c) modo.
d) oposição. e) tempo.
16.A expressão que indica tempo está na opção
a) ”...o doutor lhe põe nos
braços.”
b) “não ousa intervir abertamente.”
c) ” sair de mãos dadas com
o seu neto”
d) ” embala-o de noite.”
e) ” bateu com a bola nele.”
17. No plural, a frase “ Uma
noite na sua casa é uma fuga à rotina”, (linha 68) seria
a) Noites na sua casa
serão...
b) Noites na sua casa
seriam...
c) Noites na sua casa são...
d) Noites na sua casa
sejam...
e) Noites na sua casa sois...
18.“Amar com extravagância” (linha 34) é amar
a) com dúvidas.
b) com exagero.
c) com insegurança.
d)com prudência.
e) com temor.
19. "Vó!" (linha 89) está entre
aspas porque
a) indica o pensamento da avó.
b) indica o sonho do menino.
c) indica a fala da avó.
d) indica a fala do menino.
e) indica a alegria da avó.
20. “Lá não há linha divisória entre o
proibido e o permitido.”(linha 69) A palavra sublinhada refere-se a(o)
a) aventura. b) casa. c) fuga.
d) noite. e) rotina
Entendendo a
crônica:
01 – O título de um
texto é sempre primeiro a levantar expectativas quanto ao seu conteúdo. A
partir dele fazemos uma série de suposições iniciais que depois podem ser modificados
ou confirmadas. Que emoções e ideias foram despertadas pela leitura dessa
crônica? Comente.
Que arte de ser avó é
emocionante, pois se reconhece o direito de amar com extravagância.
02 – O narrador do
texto é em:
a) 1ª pessoa
(participa da história).
b) 3ª pessoa (observa
a história de fora e conta).
c) 3ª pessoa (e, às vezes,
permite certas intromissões narrado em 1ª pessoa).
03 – Em que trecho
da crônica observa-se um humor sutil e a emoção de ser avó?
“E então, um belo dia,
sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor
lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a
maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria
de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha,
longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é “devolvido”.
04 – Existe uma
relação entre a situação vivida pela personagem da crônica e a de nosso
dia-a-dia? Justifique.
Sim. A arte de ser avó é presente de Deus. Difícil explicar, pura emoção.
05 – A crônica lida predomina a ação ou a reflexão? Comente.
A reflexão de que se cumpre o seu papel biológico de preservação da espécie (família) que continuará a vida através do neto.
06 – A crônica é um gênero discursivo que mescla a tipologia narrativa
com trechos refletivos e, em alguns casos, argumentativos. O que predomina
nessa crônica?
Predomina a
argumentação, a descrição e também a narração.
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