sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Conto - O Grande Mistério - Stanislaw Ponte Preta

 

Conto - O Grande Mistério  - Stanislaw Ponte Preta

Há dias já que buscavam uma explicação para os odores esquisitos que vinham da sala de visitas. Primeiro houve um erro de interpretação: o quase imperceptível cheiro foi tomado como sendo de camarão. No dia em que as pessoas da casa notaram que a sala fedia, havia um suflê de camarão para o jantar. Daí…

Mas comeu-se o camarão, que inclusive foi elogiado pelas visitas, jogaram as sobras na lata do lixo e — coisa estranha — no dia seguinte a sala cheirava pior.

Talvez alguém não gostasse de camarão e, por cerimônia, embora isso não se use, jogasse a sua porção debaixo da mesa. Ventilada a hipótese, os empregados espiaram e encontraram apenas um pedaço de pão e uma boneca de perna quebrada, que Giselinha esquecera ali. E como ambos os achados eram inodoros, o mistério persistiu.

Os patrões chamaram a arrumadeira às falas. Que era um absurdo, que não podia continuar, que isso, que aquilo. Tachada de desleixada, a arrumadeira caprichou na limpeza. Varreu tudo, espanou, esfregou e… nada. Vinte e quatro horas depois, a coisa continuava. Se modificação houvera, fora para um cheiro mais ativo.

À noite, quando o dono da casa chegou, passou uma espinafração geral e, vítima da leitura dos jornais, que folheara no caminho para casa, chegou até a citar a Constituição na defesa de seus interesses.

– Se eu pago empregadas para lavar, passar, limpar, cozinhar, arrumar e uma babá tenho o direito de exigir alguma coisa. Não pretendo que a sala de visitas seja um jasmineiro, mas feder também não. Ou sai o cheiro ou saem os empregados.  Reunida na cozinha, a criadagem confabulava. Os debates eram apaixonados, mas num ponto todos concordavam: ninguém tinha culpa. A sala estava um brinco; dava até gosto ver. Mas ver, somente, porque o cheiro era de morte.

Então alguém propôs encerar. Quem sabe uma passada de cera no assoalho não iria melhorar a situação?  – Isso mesmo — aprovou a maioria, satisfeita por ter encontrado uma fórmula capaz de combater o mal que ameaçava seu salário.

Pela manhã, ainda ninguém se levantara, e já a copeira e o chofer enceravam sofregamente, a quatro mãos. Quando os patrões desceram para o café, o assoalho brilhava. O cheiro da cera predominava, mas o misterioso odor, que há dias intrigava a todos, persistia, a uma respirada mais forte.

Apenas uma questão de tempo. Com o passar das horas, o cheiro da cera — como era normal — diminuía, enquanto o outro, o misterioso — estranhamente, aumentava. Pouco a pouco reinaria novamente, para desespero geral de empregados e empregadores.  A patroa, enfim, contrariando os seus hábitos, tomou uma atitude: desceu do alto do seu grã-finismo com as armas de que dispunha, e com tal espírito de sacrifício que resolveu gastar os seus perfumes. Quando ela anunciou que derramaria perfume francês no tapete, a arrumadeira comentou com a copeira:  – Madame apelou para a ignorância.

E salpicada que foi, a sala recendeu. A sorte estava lançada. Madame esbanjou suas essências com uma altivez digna de uma rainha a caminho do cadafalso. Seria o prestígio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.

Na hora do jantar a alegria era geral. Nas restavam dúvidas de que o cheiro enjoativo daquele coquetel de perfumes era impróprio para uma sala de visitas, mas ninguém poderia deixar de concordar que aquele era preferível ao outro, finalmente vencido.  Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede. Levantou-se cauteloso, para não acordar ninguém, e desceu as escadas, rumo à geladeira. Ia ainda a meio caminho quando sentiu que o exército de perfumistas franceses fora derrotado. O barulho que fez daria para acordar um quarteirão, quanto mais os da casa, os pobres moradores daquela casa, despertados violentamente, e que não precisavam perguntar nada para perceberem o que se passava. Bastou respirar.

Hoje pela manhã, finalmente, após buscas desesperadas, uma das empregadas localizou o cheiro. Estava dentro de uma jarra, uma bela jarra, orgulho da família, pois tratava-se de peça raríssima, da dinastia Ming... Apertada pelo interrogatório paterno Giselinha confessou-se culpada e, na inocência dos seus três anos, prometeu não fazer mais. Não fazer mais na jarra, é lógico.

 


Questões SPAECE

1. Qual é a tese central do conto?
(A) O excesso de perfumes pode piorar um problema de odor.
(B) O mistério do mau cheiro causa tensão entre patrões e empregados.
(C) O suflê de camarão foi a principal causa do mau cheiro na sala.
(D) A culpa pelo cheiro ruim foi dos empregados da casa.


2. Qual estratégia a patroa utilizou para tentar resolver o problema do cheiro?
(A) Jogou a jarra fora.
(B) Contratou novos empregados.
(C) Passou perfumes franceses no tapete.
(D) Lavou a sala com produtos de limpeza.


3. No trecho: “Madame apelou para a ignorância.”, o que a empregada quis dizer com essa frase?
(A) A patroa não sabia o que estava fazendo.
(B) A patroa tomou uma atitude extrema e ineficaz.
(C) A patroa pediu ajuda aos empregados.
(D) A patroa não percebeu o problema do cheiro.


4. O trecho "Na hora do jantar a alegria era geral" indica que os personagens estavam felizes porque:
(A) Resolveram definitivamente o problema do mau cheiro.
(B) Conseguiram mascarar temporariamente o odor.
(C) Descobriram que a jarra era a fonte do cheiro.
(D) Giselinha confessou sua culpa.


5. Qual foi a verdadeira causa do mau cheiro na sala?
(A) Um pedaço de pão mofado.
(B) Um suflê de camarão estragado.
(C) Um objeto esquecido dentro da jarra.
(D) A cera aplicada no assoalho.


6. No trecho: “Mas eis que o patrão, a horas mortas, acordou com sede.”, a expressão "a horas mortas" significa:
(A) Durante a madrugada.
(B) No final da tarde.
(C) No começo da manhã.
(D) No horário do jantar.


7. Sobre a estrutura do texto, podemos afirmar que:
(A) É um texto narrativo, pois apresenta personagens, enredo e desfecho.
(B) É um texto expositivo, pois traz informações sobre perfumes franceses.
(C) É um texto descritivo, pois detalha minuciosamente os acontecimentos.
(D) É um texto injuntivo, pois orienta sobre como evitar maus odores.


8. Qual efeito de sentido é gerado com a frase: “Seria o prestígio e a experiência de Carven, Patou, Fath, Schiaparelli, Balenciaga, Piguet e outros menores, contra a ignóbil catinga.”
(A) O humor, ao exagerar a importância dos perfumes na batalha contra o mau cheiro.
(B) O suspense, ao criar um clima de mistério em relação à origem do cheiro.
(C) A ironia, ao comparar perfumes sofisticados com um cheiro desagradável.
(D) A formalidade, ao citar marcas famosas de perfumes.


9. A postura do patrão em relação ao problema do mau cheiro pode ser descrita como:
(A) Paciência e compreensão com os empregados.
(B) Indiferença e falta de preocupação com o odor.
(C) Irritação e cobrança exagerada sobre os empregados.
(D) Medo e insegurança diante da situação.


10. No trecho: “Se modificação houvera, fora para um cheiro mais ativo.”, o que significa "cheiro mais ativo"?
(A) Um cheiro mais forte e desagradável.
(B) Um cheiro agradável e duradouro.
(C) Um cheiro fraco e quase imperceptível.
(D) Um cheiro parecido com o de perfumes caros


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ATIVIDADE AVALIATIVA – Responda no caderno

 

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

1. Qual acontecimento estranho chama a atenção dos moradores da casa em se passa o conto?

2. Quais explicações aparecem para esse acontecimento ao longo do conto?

3. Qual a classe social da família que mora na casa? Justifique sua resposta

4. De que formas tentaram resolver o problema?

5. Quem era o culpado pelo problema?

 

ANÁLISE DO CONTEXTO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO E DA FORMA COMPOSICIONAL DO GÊNERO

1. Quais são os personagens do conto?

2. Onde a história se passa?

3. Existe um tempo determinado em que a história se passa? Se sim, como é possível saber qual é o tempo?

4. Todo conto de mistério, como o próprio nome diz, apresenta um mistério a ser solucionado. Qual é o mistério do conto lido?

5. Antes da resolução desse mistério, o autor cria um clima de suspense na narrativa. Como isso foi feito no conto O Grande Mistério?

6. Qual é o conflito do conto?

7. Qual é o clímax do conto?

8. Qual é o desfecho do conto?

 

PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL

 

Refletindo sobre o conto que você leu, você deverá escrever uma história em que uma detetive investiga um assassinato, a fim de descobrir a identidade do criminoso. Em seu conto, você deverá revelar quem é o assassino. Importante: lembre-se de dar um título a seu texto e de escrevê-lo em terceira pessoa. Descreva como é seu personagem fisicamente. Determine sua altura, como são seus cabelos, seus olhos e seu corpo.

Descreva algumas características do espaço em que a história ocorrerá. Como é esse lugar? Como são as pessoas que ali vivem? Há animais nesse lugar? Como eles são? E quanto ao clima? Faça sua descrição de forma mais detalhada possível.

Descreva como é seu personagem psicologicamente, ou seja, determine se sua personalidade é calma ou agitada, se é altruísta ou egoísta, se alguém confiável ou não e demais características que julgar importantes.

Defina qual o passado de seu personagem. Você pode escrever onde ele nasceu, como é sua família, quais são as coisas de que mais gosta entre outras informações que considerar pertinentes.

 

Texto – O Impacto do Uso Excessivo de Telas

Nos últimos anos, o tempo que as pessoas passam em frente às telas aumentou significativamente. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, como celulares, tablets e computadores, tem sido associado a diversos problemas de saúde, incluindo dificuldades para dormir, fadiga ocular e sedentarismo. Especialistas recomendam que o tempo de exposição seja equilibrado e que pausas regulares sejam feitas para reduzir os impactos negativos.


 

Questões SPAECE

1. Qual é o tema central do texto?
(A) A evolução dos dispositivos eletrônicos.
(B) Os benefícios do uso das telas na educação.
(C) Os impactos negativos do uso excessivo de telas.
(D) A importância da tecnologia na sociedade moderna.


2. O principal objetivo do texto é:
(A) Explicar como funcionam os dispositivos eletrônicos.
(B) Informar sobre os efeitos negativos do uso excessivo de telas.
(C) Convencer o leitor a parar de usar tecnologia.
(D) Contar uma história fictícia sobre telas e saúde.


3. No trecho: “Especialistas recomendam que o tempo de exposição seja equilibrado e que pausas regulares sejam feitas para reduzir os impactos negativos.”, o autor pretende:
(A) Fazer um alerta sobre os riscos do excesso de telas.
(B) Incentivar o aumento do uso de telas no dia a dia.
(C) Explicar como as telas funcionam.
(D) Defender o uso irrestrito da tecnologia.


4. O título do texto ajuda a identificar seu tema porque:
(A) Indica que o uso de telas pode ter consequências.
(B) Sugere que a tecnologia é essencial para a vida moderna.
(C) Mostra que os dispositivos eletrônicos são indispensáveis.
(D) Aponta a necessidade de mais telas no cotidiano.


5. Com base no texto, o autor sugere que o uso de telas:
(A) Deve ser evitado a qualquer custo.
(B) Não causa nenhum impacto na saúde.
(C) Deve ser moderado para evitar problemas.
(D) É essencial para a vida moderna e sem riscos.


6. Qual das opções melhor resume o tema do texto?
(A) O avanço da tecnologia e o surgimento de novas telas eletrônicas.
(B) A influência da tecnologia na comunicação global.
(C) Os efeitos negativos do uso excessivo de telas e a importância do equilíbrio.
(D) As vantagens do uso contínuo de dispositivos eletrônicos para o aprendizado.


7. Qual alternativa apresenta uma possível reformulação do título mantendo o tema do texto?
(A) “O Futuro da Tecnologia e das Telas”    (B) “Os Riscos do Uso Exagerado de Dispositivos Eletrônicos”
(C) “Como Escolher o Melhor Celular para o Dia a Dia”    (D) “Os Benefícios das Telas para o Aprendizado”

 

                                                Conto: O Grande Mistério -  Stanislaw Ponte Preta

INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

  1. Qual acontecimento estranho chama a atenção dos moradores da casa em que se passa o conto?

É o cheiro insuportável que começa a vir da sala de visitas. Inicialmente, o cheiro é confundido com algo como camarão, mas, após o jantar, o problema persiste e o cheiro fica cada vez pior.

  1. Quais explicações aparecem para esse acontecimento ao longo do conto?

Inicialmente, pensa-se que o cheiro possa ser causado pelas sobras do suflê de camarão, mas depois, essa explicação é descartada. Então, surgem outras possibilidades, como a ideia de que alguém poderia ter jogado sua porção de camarão embaixo da mesa, mas nada é encontrado. A arrumadeira tenta limpar com mais zelo, mas o cheiro persiste. Até mesmo a ideia de encerar o assoalho é testada, sem sucesso. Por fim, a patroa decide usar perfumes franceses para mascarar o odor, mas isso não resolve. O mistério só é solucionado no final, quando Giselinha, a criança, revela que o cheiro vinha de uma jarra com algo que ela tinha feito.

  1. Qual a classe social da família que mora na casa? Justifique sua resposta.

A família é de classe alta. Isso pode ser percebido pela forma como os patrões se comportam (exigindo perfeição dos empregados, tratando-os com distanciamento) e pela presença de vários empregados (arrumadeira, copeira, chofer). Também é indicada pela utilização de perfumes franceses caros e a sala de visitas bem cuidada, que sugere uma casa de luxo e cuidado com a aparência social.

  1. De que formas tentaram resolver o problema?

Inicialmente, tentaram atribuir o cheiro a uma comida (o camarão) e depois investigaram se algo poderia ter sido jogado na sala. Quando isso não funcionou, tentaram uma limpeza mais intensa, com a arrumadeira se dedicando mais ao ambiente. Após o insucesso de limpar, a solução foi tentar encerar o assoalho. Quando também não deu certo, a patroa usou perfumes franceses para disfarçar o cheiro. A solução definitiva veio quando Giselinha, a criança, revelou que o cheiro vinha de uma jarra, e o mistério foi finalmente desvendado.

  1. Quem era o culpado pelo problema?

Era Giselinha, a criança da casa. Ela havia colocado algo na jarra, sem que os adultos soubessem, causando o odor estranho. Ao ser questionada, Giselinha confessou que tinha sido ela, mas com a inocência de uma criança, sem compreender as consequências de seu ato.

ANÁLISE DO CONTEXTO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO E DA FORMA COMPOSICIONAL DO GÊNERO:

  1. Quais são os personagens do conto?

Os personagens principais são:

      • Os patrões (os donos da casa)
      • A arrumadeira (responsável pela limpeza)
      • A copeira (funcionária da cozinha)
      • O chofer (motorista)
      • Giselinha (a criança)
      • O patrão (que lidera a crítica e a ação)
  1. Onde a história se passa?

A história se passa em uma casa de classe alta. O foco da narrativa é na sala de visitas, um ambiente de destaque dentro da residência. A casa é grande, bem cuidada, com empregados e um ambiente socialmente elevado.

  1. Existe um tempo determinado em que a história se passa? Se sim, como é possível saber qual é o tempo?

O tempo específico não é dado de forma clara, mas podemos inferir que a história se passa em um período contemporâneo à época de sua escrita (possivelmente nas décadas de 1960 a 1970), devido ao contexto social descrito, como o uso da Constituição pelo patrão e a presença de empregados e patrões, que indicam uma divisão social característica de sociedades mais hierárquicas.

  1. Todo conto de mistério, como o próprio nome diz, apresenta um mistério a ser solucionado. Qual é o mistério do conto lido?

O mistério é o cheiro insuportável que vem da sala de visitas e que ninguém consegue identificar ou eliminar, apesar das várias tentativas de limpeza e soluções propostas pelos moradores da casa.

  1. Antes da resolução desse mistério, o autor cria um clima de suspense na narrativa. Como isso foi feito no conto "O Grande Mistério"?

É criado por meio da incerteza e frustração contínuas. Cada tentativa de resolver o mistério falha, o que aumenta a tensão entre os personagens e mantém o leitor curioso sobre a origem do cheiro. O fato de a solução do mistério demorar a surgir, mesmo com várias tentativas e explicações alternativas, mantém o suspense até o momento da revelação final.

  1. Qual é o conflito do conto?
    • É o desespero e a frustração dos patrões e empregados para encontrar a origem do cheiro insuportável na sala de visitas. Esse conflito também tem um aspecto social, já que os patrões exigem um trabalho perfeito, enquanto os empregados, que tentam resolver o problema, estão constantemente sendo criticados.
  2. Qual é o clímax do conto?
    • Quando a patroa resolve despejar perfume francês na sala para tentar resolver o problema do cheiro. Esse ato representa o ápice do desespero dela, que, em sua busca desesperada pela solução, toma uma medida extrema e irreversível. O suspense atinge seu ponto mais alto nesse momento.
  3. Qual é o desfecho do conto?
    • Quando a verdadeira causa do cheiro é revelada. Giselinha, a criança da casa, admite que foi ela quem causou o problema ao colocar algo dentro de uma jarra, o que gerou o cheiro. Ela o fez sem intenção de causar um problema, o que torna a solução do mistério simples, mas também revela a ingenuidade da criança.

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