segunda-feira, 2 de junho de 2025

Círculo de Leitura - ELETIVA

 Círculo de Leitura

Lygia Fagundes Telles

 

Lygia Fagundes Telles (1923-2022) foi uma escritora brasileira. Romancista e contista, foi a grande representante do movimento Pós-Modernista. Foi membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa. 

Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1923. Filha do promotor Durval de Azevedo Fagundes e da pianista Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, passou sua infância em várias cidades do interior em função do trabalho do pai. Seu interesse por literatura começou na adolescência. Com 15 anos, com a ajuda do pai, publicou seu primeiro livro de contos, "Porão e Sobrado".

De volta à capital, estudou no Instituto de Educação Caetano de Campos. Em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo. Nessa mesma época, cursou Educação Física na mesma universidade. Ainda estudante, Lygia colaborava com os jornais “Arcádia” e “A Balança”, ambos vinculados à Academia de Letras da faculdade. Nessa época, frequentava os encontros de literatura com Mário de Andrade e Oswald de Andrade.

A estreia oficial de Lygia Fagundes Telles, na literatura, ocorreu em 1944, com o volume de contos "Praia Viva". Em 1947, casou-se com um de seus professores, o jurista Goffredo Telles Júnior, com quem teve um filho. Lygia seguiu com a contínua produção de contos e romances, entre eles “Ciranda de Pedra” (1954), no qual relata a história de um casal que se separa e a caçula vai morar com a mãe, quando vive os dramas ocultos de uma jovem de pais separados. (A obra foi posteriormente adaptada para uma novela na TV Globo).

Em 1958, Lygia publicou o livro de contos "História do Desencontro", que recebeu o Prêmio Artur Azevedo do Instituto Nacional do Livro. Em 1960, separou-se do marido. Em 1963, casou-se com o ensaísta e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes. Nesse mesmo ano, publicou seu segundo romance “Verão no Aquário”, que recebeu o Prêmio Jabuti.

Junto com Paulo Emílio, escreveu o roteiro para o filme Capitu (1967), baseado na obra Dom Casmurro de Machado de Assis, uma encomenda de Paulo César Saraceni, que recebeu o Prêmio Candango de Melhor Roteiro Cinematográfico.

A consagração de Lygia veio em 2001, quando recebeu o Prêmio Camões, que lhe foi entregue em 13 de outubro de 2005, durante a VIII Cúpula Luso-brasileira realizada na cidade do Porto, Portugal. Em 2016, aos 92 anos de idade, Lygia Fagundes Telles tornou-se a primeira mulher brasileira a ser indicada para receber o prêmio Nobel de Literatura. Lygia Fagundes Telles faleceu aos 98 anos em São Paulo em 3 de abril de 2022.                          Frases de Lygia Fagundes Telles

·         Já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente.

·         Não peça coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo.

·         Se é difícil carregar a solidão, mais difícil ainda é carregar uma companhia.

·         A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas da vida.

·         O menino então sorri e nem o inimigo mais feroz resistirá a esse sorriso de quem se oferece tão sem defesa.

·         A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza.

Convite à Leitura

🕯️Você teria coragem de encontrar um ex-namorado... em um cemitério abandonado? Um dos contos mais intrigantes da literatura brasileira! Em "Venha ver o pôr do sol", a consagrada autora Lygia Fagundes Telles nos conduz por um caminho misterioso, onde um simples reencontro pode revelar algo muito mais sombrio do que aparenta. Você lerá a seguir uma resenha do conto 'Venha ver o pôr do sol'."

Resenha do conto:  Venha ver o pôr do sol de Lygia Fagundes Telles

A escolha do cemitério como cenário entre um reencontro entre ex-namorado parece um tanto estranha, e mesmo assustadora se analisada a situação, colocando-se no lugar de Raquel. Porém, a intenção de Ricardo na escolha do local tinha uma finalidade até que romântica, uma vez que queria mostrar à ex-namorada o mais belo pôr do sol.

Raquel decide ir então ao encontro de Ricardo e, enquanto o ex-casal caminha pelo espaço do cemitério, o rapaz, inicialmente demonstra ser tão somente um caso típico de “coração partido”, do tipo de não superou o relacionamento e deseja que o reencontro reacenda o sentimento de Raquel por ele, para que os dois possam ter uma nova chance.

Contudo, em segunda instância a conversa entre os dois passa a se atribuir de um tom um tanto mórbido, uma vez que Ricardo começa a falar dos familiares que perdeu para a morte e que encontram-se enterrados ali mesmo, no tal cemitério abandonado. A partir desta entonação, o rapaz então passa a fazer reflexões profundas sobre o abandono daquele espaço, dos que estão ali enterrados e também sobre a morte em si.

A caminhada dos dois segue, com Ricardo contando sobre seus parentes mortos que foram ali enterrados, sobre uma prima com a qual deixa a entender que teve um relacionamento amoroso. Deixa a entender também que desejaria que Raquel fosse a seu apartamento, elogia sobremaneira sua beleza, ao passo que ela não para de reclamar sobre as condições precárias do local do encontro, a lama e os pedregulhos fazendo barulho na sola de seus sapatos, a possibilidade do novo namorado, ela expõe como “ciumentíssimo” faria se soubesse de seu encontro.

Raquel não consegue acreditar no absurdo que fora aquele encontro em um cemitério, ainda mais para que visse o pôr do sol, Ricardo só poderia estar maluco, parecia mais magro e se dizia mais pobre ainda do que na época em que namoravam, bem como zombava da ex pela falta de resistência que a ‘riqueza’ e a boa vida ofertada pelo novo namorado haviam causado em Raquel.

Após a longa caminhada pelo cemitério abandonado, onde lá embaixo deixavam para trás até crianças brincando de roda, finalmente o ex-casal chega à capelinha onde estavam os mortos de Ricardo. O rapaz afasta das trepadeiras que cobrem o local e abre os portões enferrujados e velhos. Raquel se surpreende na escuridão do mausoléu com a tamanha sujeira e falta de cuidado do local, até que Ricardo começa a acender um fósforo para iluminar o local, encontrando a lápide da prima Maria Emília, a qual Raquel não enxergara por conta da escuridão.

Ao iluminar a foto e o epitáfio da lápide, Raquel constata que a fotografia estava apagada demais, lendo a data de nascimento e morte da falecida, Raquel derruba o fósforo ao se dar conta de que a tal Maria Emília estava morta há mais de cem anos, isto é, não havia possibilidade de ser prima de Ricardo. A constatação de Raquel vem um pouco tarde demais, uma vez que quando se vira já que se encontra trancada dentro do mausoléu, com Ricardo olhando-a de fora e com um semblante nada amigável ou pacífico e jovial do que aquele que ela vira anteriormente.

A partir daí, o final da história fica aberto ao mistério típico atribuído por Telles aos seus contos, sem deixar exatamente claro o que aconteceu, porque aconteceu, qual foi a motivação do que aconteceu. Mas, é possível finalizar esta resenha falando um pouco mais sobre o estilo da autora, que diz muito sobre este conto em si.

Telles foi considerada uma escritora genial, com inspiração em Allan Poe e Lovecraft, passou a se tornar magistrada na arte de apreender toda a atenção dos leitores de seus contos, e ao final de tudo ainda conseguir surpreendê-lo, direcionando a história para um caminho inicialmente inimaginável, sendo que tudo ocorre de maneira tão natural, que sequer é possível esperar o que pode acontecer. No decorrer das linhas que se seguem em “Venha ver o pôr do sol” é possível notar que o suspense aumente, o clima de tensão passa a se instaurar, assim como alguns detalhes na narrativa passam a dar breves indícios sobre algo que pode ser ou não, mas sempre deixando no ar um desconforto, uma sensação de que algo não está certo, algo, aliás, parece estar muito errado.

O leitor passa então a se envolver com todo o contexto do conto, passa a assumir aquela tensão que a autora deixa velada no texto, passa a se afeiçoar aos personagens, todos os elementos trabalhados por Telles são contagiantes, enveredam de maneira tão profunda que, dependendo da intensidade da leitura, é possível até mesmo acompanhar a história como se estivesse caminhando logo atrás de Ricardo e Raquel, percorrendo o mesmo caminho lamacento do cemitério. De repente a autora joga o leitor então a um momento de confusão intensa, já que a ideia de fora formulada inicialmente sobre o texto deixa de ser tão concreta e parece agora muito mais incerta do que qualquer certeza que já houvera antes. Neste momento o leitor se atribui de uma única certeza, o pensamento inevitável e inafastável de que “algo de ruim vai acontecer”.

Quando se constata tal fato, porém, é tarde para sair da rede que Telles criou em volta do leitor com sua história, o conto da autora já fisgou completamente seu leitor, este sujeito certamente já se encontra tão envolvido e afoito para descobrir o desfecho do conto, que ao mesmo tempo em que seus pensamentos continuam no “algo de ruim vai acontecer”, seus olhos não deixam por um segundo sequer as palavras de Telles.

O desfecho do encontro de Ricardo e Raquel é, finalmente tudo o que poderia ser quando se aceita encontrar um ex-namorado em um cemitério abandonado, contudo, ainda que agora isto pareça tão óbvio, o direcionamento romântico que Telles inicia a história, faz mudar o pensamento do óbvio para relacionar ao romântico, afastando o leitor de sua razão mais fria e calculada e lançando-se de cabeça nesta história inesperada.                Publicado por: Ricardo Santos David

10     QUESTÕES ARGUMENTATIVAS PARA DEBATE

1.Você acredita que o cenário do cemitério contribui para o impacto do conto "Venha ver o pôr do sol"? Justifique com base nos efeitos que ele causa no leitor.

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2.O final do conto é considerado "aberto" e misterioso. Você prefere esse tipo de final ou um desfecho claro e explicado? Argumente sua posição. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Lygia Fagundes Telles é frequentemente comparada a autores como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft. Em sua opinião, há vantagens em misturar elementos do suspense com situações do cotidiano? Por quê?

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4.Raquel, mesmo diante de sinais estranhos, continua acompanhando Ricardo. Você acha que ela agiu por ingenuidade, curiosidade ou confiança? Argumente sua resposta. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. A resenha afirma que Lygia “fisga” o leitor com sua narrativa. Para você, o que torna uma história envolvente a ponto de “prender” o leitor? Use exemplos. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. A autora foi a primeira mulher brasileira indicada ao Prêmio Nobel de Literatura. Você acha que o reconhecimento da literatura feminina ainda enfrenta obstáculos? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7.O texto biográfico mostra que Lygia teve forte presença na vida intelectual e acadêmica brasileira. Em sua opinião, a formação acadêmica contribui para a qualidade da obra literária de um autor? Por quê? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.Raquel parece representar um tipo de personagem comum na literatura: a que “não vê” o perigo. Você acha que ela simboliza algo mais profundo, como a ilusão em relacionamentos? Explique. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________9.Ricardo é um personagem ambíguo: mistura romantismo com morbidez. O que isso diz sobre a complexidade das emoções humanas? Argumente.

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Com orientação do docente

No caderno ARGUMENTE SOBRE: “A sutileza do mal: quando o perigo não grita, sussurra” Com base no comportamento de Ricardo, discorra sobre como nem todo mal é explícito e por que isso é ainda mais perigoso.

GABARITO COMENTADO – QUESTÕES ARGUMENTATIVAS (9º ANO)

  1. Cenário do cemitério contribui para o impacto?
    ✔️ Sim, pois intensifica o suspense e cria um clima de tensão e medo.
    ✔️ Ou não, se o aluno argumentar que o local tira a verossimilhança do encontro.
    🎯 O importante é justificar com base na construção do clima e das emoções no leitor.
  2. Final aberto x desfecho claro:
    ✔️ Ambas as posições são válidas.
    ✔️ Se prefere final aberto: deve argumentar que isso estimula a imaginação e reflexão.
    ✔️ Se prefere final fechado: pode argumentar que isso traz mais clareza e conclusão.
    🎯 Avalie a coerência e profundidade da justificativa.
  3. Suspense no cotidiano – vantajoso?
    ✔️ Sim, porque torna o relato mais envolvente e imprevisível.
    ✔️ Ou não, se o aluno considerar que isso pode confundir o leitor ou torná-lo desconfortável.
    🎯 Valide a capacidade de argumentação e a referência ao conto ou autores mencionados.
  4. Comportamento de Raquel – ingenuidade, curiosidade ou confiança?
    ✔️ Ingenuidade: desconsidera sinais claros de perigo.
    ✔️ Curiosidade: aceita o encontro por querer saber mais sobre Ricardo.
    ✔️ Confiança: acredita nas intenções do ex-namorado.
    🎯 Qualquer resposta bem fundamentada é válida.
  5. O que prende o leitor em uma narrativa?
    ✔️ Pode citar: suspense, reviravolta, identificação com personagens, cenário misterioso.
    ✔️ O aluno pode usar o próprio conto como exemplo.
    🎯 Espera-se percepção do efeito do estilo narrativo da autora.
  6. Reconhecimento da literatura feminina – obstáculos?
    ✔️ Sim, se argumentar sobre desigualdade de gênero na literatura e nas premiações.
    ✔️ Não, se argumentar que atualmente há maior valorização, mas deve ser bem justificado.
    🎯 Avalie o senso crítico e a compreensão histórica/social do tema.
  7. Formação acadêmica influencia a qualidade literária?
    ✔️ Sim, se considerar que amplia o repertório e o domínio da linguagem.
    ✔️ Não necessariamente, se argumentar que talento e vivência pessoal também contam.
    🎯 Importa a clareza na relação entre formação e escrita.
  8. Raquel simboliza ilusão em relacionamentos?
    ✔️ Sim, se disser que ela representa quem insiste em reatar com o passado ignorando sinais.
    ✔️ Pode citar a dificuldade de enxergar o outro como ele realmente é.
    🎯 Avalie se o aluno identificou esse simbolismo e usou o conto como base.
  9. Ricardo e a complexidade das emoções humanas:
    ✔️ Deve-se destacar a mistura de sentimentos: amor, rejeição, raiva, desejo de vingança.
    ✔️ Boa resposta reconhece que o ser humano não é linear – Ricardo é um personagem ambíguo.
    🎯 Busque argumentações sobre contradições internas.
  10. Frase: “mais difícil é carregar uma companhia” – relação com o conto:
    ✔️ Sim, se argumentar que a companhia de Ricardo torna-se insuportável, perigosa.
    ✔️ Pode refletir sobre relacionamentos tóxicos ou obsessivos.
    🎯 A resposta ideal conecta a frase ao conteúdo e clima do conto.

 

 

 

👥 Atividades em Grupo – Círculo de Leitura

🎯 Atividade 1: Leitura dramatizada e reescrita

  • Divida a turma em grupos e proponha uma encenação dramatizada do encontro entre Raquel e Ricardo.
  • Depois, cada grupo deve reescrever o final do conto com um desfecho diferente (feliz, trágico, engraçado, etc.).
  • Apresente os finais para a turma e debatam: qual final mais surpreendeu? Por quê?

🎯 Atividade 2: Debate orientado: “Ricardo é vilão ou vítima?”

  • Um grupo defende Ricardo como vilão (frio, vingativo), outro como vítima (abandonado, desprezado).
  • Terceiro grupo atua como jurados e decide quem argumentou melhor, justificando.

🎯 Atividade 3: Criação de trilha sonora ou cartaz do conto

  • Grupos criam um cartaz ilustrado ou uma trilha sonora para o conto.
  • Justificam a escolha das imagens ou músicas com base nos sentimentos provocados pelo texto.

 

 

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