Círculo de Leitura
Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles (1923-2022) foi uma
escritora brasileira. Romancista e contista, foi a grande representante do
movimento Pós-Modernista. Foi membro da Academia Paulista de Letras, da
Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa.
Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1923.
Filha do promotor Durval de Azevedo Fagundes e da pianista Maria do Rosário
Silva Jardim de Moura, passou sua infância em várias cidades do interior em
função do trabalho do pai. Seu interesse por literatura começou na
adolescência. Com 15 anos, com a ajuda do pai, publicou seu primeiro livro de
contos, "Porão e Sobrado".
De volta à capital, estudou no Instituto de Educação Caetano de Campos.
Em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da
Universidade de São Paulo. Nessa mesma época, cursou Educação Física na mesma
universidade. Ainda estudante, Lygia colaborava com os jornais “Arcádia” e “A
Balança”, ambos vinculados à Academia de Letras da faculdade. Nessa época,
frequentava os encontros de literatura com Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
A estreia oficial de Lygia Fagundes Telles, na literatura, ocorreu em
1944, com o volume de contos "Praia Viva". Em 1947, casou-se com um
de seus professores, o jurista Goffredo Telles Júnior, com quem teve um filho. Lygia
seguiu com a contínua produção de contos e romances, entre
eles “Ciranda de Pedra” (1954), no qual relata a história de um casal
que se separa e a caçula vai morar com a mãe, quando vive os dramas
ocultos de uma jovem de pais separados. (A obra foi posteriormente adaptada
para uma novela na TV Globo).
Em 1958, Lygia publicou o livro de contos "História do
Desencontro", que recebeu o Prêmio Artur Azevedo do Instituto Nacional do
Livro. Em 1960, separou-se do marido. Em 1963, casou-se com o
ensaísta e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes. Nesse mesmo
ano, publicou seu segundo romance “Verão no Aquário”, que recebeu o
Prêmio Jabuti.
Junto com
Paulo Emílio, escreveu o roteiro para o filme Capitu (1967), baseado
na obra Dom Casmurro de Machado de Assis, uma encomenda de Paulo César
Saraceni, que recebeu o Prêmio Candango de Melhor Roteiro Cinematográfico.
A
consagração de Lygia veio em 2001, quando recebeu o Prêmio Camões, que lhe foi
entregue em 13 de outubro de 2005, durante a VIII Cúpula
Luso-brasileira realizada na cidade do Porto, Portugal. Em 2016, aos
92 anos de idade, Lygia Fagundes Telles tornou-se a primeira mulher brasileira
a ser indicada para receber o prêmio Nobel de Literatura. Lygia Fagundes Telles
faleceu aos 98 anos em São Paulo em 3 de abril de 2022. Frases de Lygia Fagundes Telles
·
Já que é
preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente.
·
Não peça
coerência ao mistério nem peça lógica ao absurdo.
·
Se é
difícil carregar a solidão, mais difícil ainda é carregar uma companhia.
·
A distância
mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos
que se encontram as melhores coisas da vida.
·
O menino
então sorri e nem o inimigo mais feroz resistirá a esse sorriso de quem se
oferece tão sem defesa.
·
A beleza
não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse
meio tom, nessa incerteza.
Convite à Leitura
🕯️Você teria coragem de encontrar
um ex-namorado... em um cemitério abandonado? Um dos contos mais intrigantes da literatura
brasileira! Em "Venha ver o pôr do sol", a consagrada autora Lygia
Fagundes Telles nos conduz por um caminho misterioso, onde um simples
reencontro pode revelar algo muito mais sombrio do que aparenta. Você lerá a
seguir uma resenha do conto 'Venha ver o pôr do sol'."
Resenha
do conto: Venha ver o pôr do sol de
Lygia Fagundes Telles
A escolha do cemitério como cenário entre um reencontro
entre ex-namorado parece um tanto estranha, e mesmo assustadora se analisada a
situação, colocando-se no lugar de Raquel. Porém, a intenção de Ricardo na
escolha do local tinha uma finalidade até que romântica, uma vez que queria
mostrar à ex-namorada o mais belo pôr do sol.
Raquel decide ir então ao encontro de Ricardo e,
enquanto o ex-casal caminha pelo espaço do cemitério, o rapaz, inicialmente
demonstra ser tão somente um caso típico de “coração partido”, do tipo de não
superou o relacionamento e deseja que o reencontro reacenda o sentimento de
Raquel por ele, para que os dois possam ter uma nova chance.
Contudo, em segunda instância a conversa entre os
dois passa a se atribuir de um tom um tanto mórbido, uma vez que Ricardo começa
a falar dos familiares que perdeu para a morte e que encontram-se enterrados
ali mesmo, no tal cemitério abandonado. A partir desta entonação, o rapaz então
passa a fazer reflexões profundas sobre o abandono daquele espaço, dos que
estão ali enterrados e também sobre a morte em si.
A caminhada dos dois segue, com Ricardo contando
sobre seus parentes mortos que foram ali enterrados, sobre uma prima com a qual
deixa a entender que teve um relacionamento amoroso. Deixa a entender também
que desejaria que Raquel fosse a seu apartamento, elogia sobremaneira sua
beleza, ao passo que ela não para de reclamar sobre as condições precárias do
local do encontro, a lama e os pedregulhos fazendo barulho na sola de seus
sapatos, a possibilidade do novo namorado, ela expõe como “ciumentíssimo” faria
se soubesse de seu encontro.
Raquel não consegue acreditar no absurdo que fora
aquele encontro em um cemitério, ainda mais para que visse o pôr do sol,
Ricardo só poderia estar maluco, parecia mais magro e se dizia mais pobre ainda
do que na época em que namoravam, bem como zombava da ex pela falta de
resistência que a ‘riqueza’ e a boa vida ofertada pelo novo namorado haviam
causado em Raquel.
Após a longa caminhada pelo cemitério abandonado,
onde lá embaixo deixavam para trás até crianças brincando de roda, finalmente o
ex-casal chega à capelinha onde estavam os mortos de Ricardo. O rapaz afasta
das trepadeiras que cobrem o local e abre os portões enferrujados e velhos. Raquel
se surpreende na escuridão do mausoléu com a tamanha sujeira e falta de cuidado
do local, até que Ricardo começa a acender um fósforo para iluminar o local,
encontrando a lápide da prima Maria Emília, a qual Raquel não enxergara por
conta da escuridão.
Ao iluminar a foto e o epitáfio da lápide, Raquel
constata que a fotografia estava apagada demais, lendo a data de nascimento e
morte da falecida, Raquel derruba o fósforo ao se dar conta de que a tal Maria
Emília estava morta há mais de cem anos, isto é, não havia possibilidade de ser
prima de Ricardo. A constatação de Raquel vem um pouco tarde demais, uma vez
que quando se vira já que se encontra trancada dentro do mausoléu, com Ricardo
olhando-a de fora e com um semblante nada amigável ou pacífico e jovial do que
aquele que ela vira anteriormente.
A partir daí, o final da história fica aberto ao
mistério típico atribuído por Telles aos seus contos, sem deixar exatamente
claro o que aconteceu, porque aconteceu, qual foi a motivação do que aconteceu.
Mas, é possível finalizar esta resenha falando um pouco mais sobre o estilo da
autora, que diz muito sobre este conto em si.
Telles foi considerada uma escritora genial, com
inspiração em Allan Poe e Lovecraft, passou a se tornar magistrada na arte de
apreender toda a atenção dos leitores de seus contos, e ao final de tudo ainda
conseguir surpreendê-lo, direcionando a história para um caminho inicialmente
inimaginável, sendo que tudo ocorre de maneira tão natural, que sequer é
possível esperar o que pode acontecer. No decorrer das linhas que se seguem em
“Venha ver o pôr do sol” é possível notar que o suspense aumente, o clima de
tensão passa a se instaurar, assim como alguns detalhes na narrativa passam a
dar breves indícios sobre algo que pode ser ou não, mas sempre deixando no ar
um desconforto, uma sensação de que algo não está certo, algo, aliás, parece
estar muito errado.
O leitor passa então a se envolver com todo o
contexto do conto, passa a assumir aquela tensão que a autora deixa velada no
texto, passa a se afeiçoar aos personagens, todos os elementos trabalhados por
Telles são contagiantes, enveredam de maneira tão profunda que, dependendo da
intensidade da leitura, é possível até mesmo acompanhar a história como se
estivesse caminhando logo atrás de Ricardo e Raquel, percorrendo o mesmo
caminho lamacento do cemitério. De repente a autora joga o leitor então a um
momento de confusão intensa, já que a ideia de fora formulada inicialmente
sobre o texto deixa de ser tão concreta e parece agora muito mais incerta do
que qualquer certeza que já houvera antes. Neste momento o leitor se atribui de
uma única certeza, o pensamento inevitável e inafastável de que “algo de ruim
vai acontecer”.
Quando se constata tal fato, porém, é tarde para
sair da rede que Telles criou em volta do leitor com sua história, o conto da
autora já fisgou completamente seu leitor, este sujeito certamente já se
encontra tão envolvido e afoito para descobrir o desfecho do conto, que ao
mesmo tempo em que seus pensamentos continuam no “algo de ruim vai acontecer”,
seus olhos não deixam por um segundo sequer as palavras de Telles.
O desfecho do encontro de Ricardo e Raquel é,
finalmente tudo o que poderia ser quando se aceita encontrar um ex-namorado em
um cemitério abandonado, contudo, ainda que agora isto pareça tão óbvio, o
direcionamento romântico que Telles inicia a história, faz mudar o pensamento
do óbvio para relacionar ao romântico, afastando o leitor de sua razão mais
fria e calculada e lançando-se de cabeça nesta história inesperada. Publicado por: Ricardo
Santos David
10
QUESTÕES
ARGUMENTATIVAS PARA DEBATE
1.Você acredita que o cenário do
cemitério contribui para o impacto do conto "Venha ver o pôr do sol"?
Justifique com base nos efeitos que ele causa no leitor.
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2.O final do conto é considerado
"aberto" e misterioso. Você prefere esse tipo de final ou um desfecho
claro e explicado? Argumente sua posição.
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3. Lygia Fagundes Telles é
frequentemente comparada a autores como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft. Em
sua opinião, há vantagens em misturar elementos do suspense com situações do
cotidiano? Por quê?
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4.Raquel, mesmo diante de sinais
estranhos, continua acompanhando Ricardo. Você acha que ela agiu por
ingenuidade, curiosidade ou confiança? Argumente sua resposta.
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5. A resenha afirma que Lygia
“fisga” o leitor com sua narrativa. Para você, o que torna uma história
envolvente a ponto de “prender” o leitor? Use exemplos.
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6. A autora foi a primeira
mulher brasileira indicada ao Prêmio Nobel de Literatura. Você acha que o
reconhecimento da literatura feminina ainda enfrenta obstáculos? Justifique sua
resposta.
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7.O texto biográfico mostra que
Lygia teve forte presença na vida intelectual e acadêmica brasileira. Em sua
opinião, a formação acadêmica contribui para a qualidade da obra literária de
um autor? Por quê?
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8.Raquel parece representar um
tipo de personagem comum na literatura: a que “não vê” o perigo. Você acha que
ela simboliza algo mais profundo, como a ilusão em relacionamentos? Explique. ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________9.Ricardo
é um personagem ambíguo: mistura romantismo com morbidez. O que isso diz sobre
a complexidade das emoções humanas? Argumente.
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frase de Lygia Fagundes Telles “Se é difícil carregar a solidão, mais difícil
ainda é carregar uma companhia” pode ser relacionada ao conto? Qual
interpretação você daria a essa frase?
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Com orientação do docente
No caderno ARGUMENTE SOBRE: “A sutileza do mal: quando o
perigo não grita, sussurra” Com base no comportamento de Ricardo, discorra sobre como nem todo mal
é explícito e por que isso é ainda mais perigoso.
✅ GABARITO COMENTADO – QUESTÕES
ARGUMENTATIVAS (9º ANO)
- Cenário do cemitério contribui para o
impacto?
✔️ Sim, pois intensifica o suspense e cria um clima de tensão e medo.
✔️ Ou não, se o aluno argumentar que o local tira a verossimilhança do encontro.
🎯 O importante é justificar com base na construção do clima e das emoções no leitor. - Final aberto x desfecho claro:
✔️ Ambas as posições são válidas.
✔️ Se prefere final aberto: deve argumentar que isso estimula a imaginação e reflexão.
✔️ Se prefere final fechado: pode argumentar que isso traz mais clareza e conclusão.
🎯 Avalie a coerência e profundidade da justificativa. - Suspense no cotidiano – vantajoso?
✔️ Sim, porque torna o relato mais envolvente e imprevisível.
✔️ Ou não, se o aluno considerar que isso pode confundir o leitor ou torná-lo desconfortável.
🎯 Valide a capacidade de argumentação e a referência ao conto ou autores mencionados. - Comportamento de Raquel – ingenuidade,
curiosidade ou confiança?
✔️ Ingenuidade: desconsidera sinais claros de perigo.
✔️ Curiosidade: aceita o encontro por querer saber mais sobre Ricardo.
✔️ Confiança: acredita nas intenções do ex-namorado.
🎯 Qualquer resposta bem fundamentada é válida. - O que prende o leitor em uma narrativa?
✔️ Pode citar: suspense, reviravolta, identificação com personagens, cenário misterioso.
✔️ O aluno pode usar o próprio conto como exemplo.
🎯 Espera-se percepção do efeito do estilo narrativo da autora. - Reconhecimento da literatura feminina –
obstáculos?
✔️ Sim, se argumentar sobre desigualdade de gênero na literatura e nas premiações.
✔️ Não, se argumentar que atualmente há maior valorização, mas deve ser bem justificado.
🎯 Avalie o senso crítico e a compreensão histórica/social do tema. - Formação acadêmica influencia a qualidade
literária?
✔️ Sim, se considerar que amplia o repertório e o domínio da linguagem.
✔️ Não necessariamente, se argumentar que talento e vivência pessoal também contam.
🎯 Importa a clareza na relação entre formação e escrita. - Raquel simboliza ilusão em
relacionamentos?
✔️ Sim, se disser que ela representa quem insiste em reatar com o passado ignorando sinais.
✔️ Pode citar a dificuldade de enxergar o outro como ele realmente é.
🎯 Avalie se o aluno identificou esse simbolismo e usou o conto como base. - Ricardo e a complexidade das emoções
humanas:
✔️ Deve-se destacar a mistura de sentimentos: amor, rejeição, raiva, desejo de vingança.
✔️ Boa resposta reconhece que o ser humano não é linear – Ricardo é um personagem ambíguo.
🎯 Busque argumentações sobre contradições internas. - Frase: “mais difícil é carregar uma
companhia” – relação com o conto:
✔️ Sim, se argumentar que a companhia de Ricardo torna-se insuportável, perigosa.
✔️ Pode refletir sobre relacionamentos tóxicos ou obsessivos.
🎯 A resposta ideal conecta a frase ao conteúdo e clima do conto.
👥 Atividades em Grupo – Círculo
de Leitura
🎯 Atividade 1: Leitura
dramatizada e reescrita
- Divida a turma em grupos e proponha uma encenação
dramatizada do encontro entre Raquel e Ricardo.
- Depois, cada grupo deve reescrever o
final do conto com um desfecho diferente (feliz, trágico,
engraçado, etc.).
- Apresente os finais para a turma e
debatam: qual final mais surpreendeu? Por quê?
🎯 Atividade 2: Debate orientado:
“Ricardo é vilão ou vítima?”
- Um grupo defende Ricardo como vilão
(frio, vingativo), outro como vítima (abandonado, desprezado).
- Terceiro grupo atua como jurados e decide
quem argumentou melhor, justificando.
🎯 Atividade 3: Criação de trilha
sonora ou cartaz do conto
- Grupos criam um cartaz ilustrado
ou uma trilha sonora para o conto.
- Justificam a escolha das imagens ou
músicas com base nos sentimentos provocados pelo texto.
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